8 de fev. de 2011

INDIFERENÇA

Um casal voltava dos funerais de Tio Jorge, que vivera com eles durante vinte anos e fora tão inconveniente que quase conseguiu arruinar o casamento deles.
“-Há algo que tenho de lhe dizer, querida.” Disse o homem. “ –Se não fosse meu amor por você, eu não teria aguentado seu Tio Jorge um só dia.”
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“-Meu Tio Jorge? Ela exclamou horrorizada. “-Eu pensava que ele era seu Tio Jorge!”
Entre as criaturas que nos cercam, há umas pelas quais sentimos afeição e que nos apartam do fim último, por exemplo quebrar os dez mandamentos. Há outras pelas quais sentimos aversão e que nos conduzem ao fim último, como aceitar com alegria a cruz. E há outras das quais não temos certeza se nos conduzem ou não ao fim último, como a glória, o dinheiro e a fama.
Indiferença, etimologicamente, significa falta de diferença no uso das criaturas que, por si mesmas, podem conduzir ou não ao fim. Chama-se também desapego. Se nos perguntassem o que mais convém à nossa salvação, saúde ou enfermidade, honra ou desonra, riqueza ou pobreza, se quiséssemos dar uma resposta sensata, diríamos:“-Não sei, Deus sabe.” Se, portanto, as criaturas são indiferentes, a disposição de nosso espírito com relação a elas tem que ser também de desapego, como o médico e o pintor, que se mostram indiferentes com respeito ao uso dos medicamentos e das cores que não tem relação direta com o fim desejado da pintura ou da saúde.
Podemos distinguir duas espécies de desapego: indiferença da vontade e indiferença da sensibilidade. A primeira é a disposição da vontade de não se inclinar ao uso das criaturas senão na medida em que conduzem a nossa alegria e salvação. A indiferença à sensibilidade é a expulsão de todo afeto sensível contrária à vontade Divina.
O desapego é a pedra angular da espiritualidade. Sem esta base, é como ter uma construção que não tem um alicerce. A indiferença e o desapego são os princípios e fundamentos de toda a espiritualidade.
Um suplicante perguntou ao Padre João se a Bíblia era um bom livro para se ler. Ele respondeu: “-É melhor perguntar a si mesmo se está em posição de beneficiar-se com a leitura dela.”
Só porque, assoprando no termômetro, fê-lo indicar uma temperatura mais alta, você não aqueceu a sala.

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