4 de jan. de 2011

DESAPEGO

       
Ano passado estava em Cabo Frio, Rio de Janeiro, visitando os pescadores. No primeiro dia fiquei na baía com os pequenos barcos. Dia seguinte, subi na montanha com os sinaleiros que têm um código com bandeiras, mostrando aos pescadores da baía onde estavam os cardumes. Descendo da montanha vimos um ninho de águia. Tirei um ovo e depois o coloquei embaixo de uma galinha chocando. Tempos depois os filhotes nasceram. Os pintinhos correram junto com a pequena águia.
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 Depois de um tempo a águia se transformou numa “águia-galinha”. Um dia no alto dos céus, voava uma bela águia dourada. Todas as galinhas e a “águia-galinha” olharam para cima desejando voar. A “águia-galinha” só teria que abrir as asas. Morreu como uma “águia-galinha”. Esta é uma estória. A verdade é que vivemos com jovens e desejamos que eles voem na vida como águias, cheios de alegria, e que não vivam como “águia/galinhas”.
            Nascemos felizes, mas a vida nos programa para, freqüentemente, ficarmos tristes. Quer dizer, nossos pais, professores e outros nos ensinam viver para o prazer, para as possessões e para o poder. É evidente que não podemos possuir sempre estas coisas. Causam tristeza. É necessário desprogramar muitas coisas que aprendemos erradamente. Temos que aprender a ser “desapegados”.
            O cavalo que perde a sua liberdade fica preso e apagado quando está num vagão. Depois do trabalho o mestre deixa-o ir ao campo desapegado e livre. Parece-me que passamos a maior parte de nossas vidas, apegados aos nossos desejos. E quando o desejo não é cumprido, ficamos tristes. Por exemplo, se achar que a minha namorada vai me dar completa alegria, estou errado. Raramente um noivo aprende que é ele que deve amar. O ponto chave é que felicidade não está em ser amado. Desejando ser amado é nada mais do que egoísmo. É evidente que poucas pessoas concordam com o que estou escrevendo. Eu respondo que são poucas as pessoas verdadeiramente felizes por não aceitarem estas idéias. O que você acha?
            Se derem a você um pedaço de ouro da mina, deve modelá-lo, transformá-lo e dividi-lo para poder usá-lo. Quando tem um pensamento dourado, é necessário trabalhá-lo, senão, não ficará feliz.
            Santo Inácio nos seus Exercícios Espirituais escreve: “É necessário fazer-nos desapegados de todas as coisas criadas, em tudo que é permitido à nossa livre vontade e não lhe é proibido. Daí se segue que devemos usar das coisas tanto quanto nos ajudam para atingir o nosso fim, e devemos nos privar delas tanto quanto nos impedem”.
            Será que ficamos felizes por causa do nosso apego? Em 1937, quando entrei na Companhia de Jesus, “Jesuítas”, me apresentaram esta tese. Até agora não aprendi bem vivê-la. Tento com todo o meu coração. É o caminho da cruz que nos eleva para a Glória da Ressurreição.

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