2 de jan. de 2011

DEPENDÊNCIA QUÍMICA, SAÚDE E RESPONSABILIDADE SOCIAL


Estou escrevendo para pessoas de quaisquer convicções, religiosas ou não. Entretanto, não posso esconder o fato de que sou sacerdote Católico. Peregrinei um bom tempo por caminhos de tradições não-cristãs e até mesmo não religiosas e devo dizer que elas exerceram grande influência sobre mim e muito me enriqueceram.
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            Entre muitos livros que li sobre onde Deus e nosso espírito vivem em nossa mente-cérebro, o melhor em minha opinião é “A Religião do Cérebro”, por Raul Marino Jr., de São Paulo/SP. Ele cita que não pode haver desarmonia entre razão e fé, uma deve servir de auxílio à outra. Essa cooperação é a principal função da teologia. Os cientistas precisam aprender a evitar e ignorar as faculdades pelas quais Deus nos criou superiores aos animais. Seria muita pretensão e farisaísmo da ciência pensar que a fé – como instrumento de conhecimento – nos força a recusar ou a deixar de buscar a razão, pois nem sequer poderíamos crer se não fôssemos dotados de uma entidade racional como o espírito vivente (alma). Somente a fé pode nos fazer crer naquilo que não vemos, dando-nos certeza sobre aquilo em que cremos e permitindo-nos entendê-lo, pois a fé é o princípio determinante de toda a teologia, sendo a Palavra da revelação sua principal fonte. É necessário muita humildade, ausência de arrogância e orgulho científicos para aceitar os postulados centrais da teologia como ciência do espírito. Vestidos com o manto dessa virtude poderemos aceitar e entender melhor as coisas do espírito, sobre as quais as ciências têm ainda pouca autoridade e pouco conhecimento.
            Penso que um dos temas principais do Dr. Raul é que a serpente pode ser considerada como nossa coluna espinhal. Nosso sistema límbico é a base de nossa parte emocional. O hominídeo se tornou animal racional falante no momento em que a Divina Majestade colocou-lhe o espírito no novo-cérebro.
            Observando o homem de outra maneira penso que, metaforicamente falando, o “homem-triângulo” é uma imagem da Divina Majestade, Deus Trino. Nosso triângulo é: Intelecto, Emoção e Vontade. Com a Graça de Deus usamos determinadamente nossa vontade para um controle moral e social de nosso intelecto e de nossas emoções.
            O Mestre com freqüência dizia a seus discípulos que, para ser verdadeira, a santidade deve ser sempre despretensiosa. E ilustrava citando esta poesia: “A rosa floresce porque sua natureza é florescer, sem perguntar por que floresce. Não se enfeita nem se ajeita para atrair o meu olhar...”.
            Daí São Paulo ter escrito “a fé é do coração”. Os lábios expressam essa fé no louvor, dizendo que Jesus Cristo é o Salvador (Rm 10,9). Cristo disse que SEU AMOR sai do interior como rios de água viva (Jô 7,37); condiz servir aos homens socialmente com justiça.
            Inácio de Loyola resumiu na sua famosa frase: “Queremos conhecer o Cristo mais profundamente, para amá-lo mais ardentemente e assim servi-lo mais de perto”.
            Observamos e aprendemos como DEUS trabalha e habita em todas as coisas, e a perceber a sua amável presença. DEUS É AMOR, desejamos ficar imersos no seu Amor infinito.
            Aprendemos também a essência da vida espiritual: não opor obstáculos à ação divina. É o aproveitamento das potencialidades humanas, colocando-as a serviço do CRIADOR; não somente louvando e reverenciando a Divina Majestade, mas servindo amplamente nosso irmão. O homem sempre procura o caminho mais fácil, não se preocupando o suficiente com o social. É mais fácil louvar a Deus que servir ao próximo.
            O homem não pode atingir Deus somente com o intelecto. O uso correto dos sentidos, a intuição e o coração ajudam-no nesta tarefa. Usando corretamente todas as suas faculdades na oração, o homem, com a graça divina, alcança um poder ilimitado de Deus e ama mais o seu irmão, que é a imagem da Trindade.
            Sabe por que o pássaro canta?... Um pássaro não canta porque tem algo a dizer. Ele canta porque traz uma melodia na garganta. As palavras do cientista são para serem compreendidas. As palavras do Mestre não são necessariamente para serem compreendidas. Elas são para serem ouvidas com atenção meditativa, do mesmo modo como alguém escuta o vento nas árvores, o marulhar de um riacho e o canto de um pássaro. Elas despertarão dentro do coração algo que sobrepassa qualquer conhecimento.
            Não nos esqueçamos de outras religiões: Buda ensinou que o desejo é a raiz de todo mal. Inácio de Loyola chama isto de desapego. Maomé diz que existe apenas um só Deus e que devemos adorá-lo. Os Islamitas adoram Deus cinco vezes, diariamente. Os Judeus, com Isaias e outros profetas, louvam e servem a Divina Majestade. Os Hindus e Mahatma Ghandi servem três deuses: Brahma, o Criador; Shiva, o Destruidor e Vishnu, o Equilibrador.
            Basicamente as religiões têm a mesma tese: amar, louvar e reverenciar a Divina Majestade e servir aos irmãos. Quem oferece uma mão a Deus e não dá a outra a seu irmão, tem uma fé em vão.
            O Mestre ensina que nada existe no intelecto que não tenho dos cinco sentidos. Na segunda parte de nosso artigo, desejamos mostrar como a mente-cérebro, através dos cinco sentidos, funciona no ser humano, o leva à sobriedade e à uma vivência social saudável.
            Este é um trabalho de arte. Requer um sentido aguçado, como Mozart que possui a uma perfeita sensibilidade quanto os sons. Apreciemos como nossos órgãos e tecidos declaram o segredo de nosso espírito. Todos os membros de nosso espírito-corpo (psicossomático) funcionam definindo nossa personalidade. Tais idéias promovem um entendimento, não só de nosso ser, mas também em relação à própria vida.
            A mente-cérebro somos nós mesmos. Sabemos que ouvimos com os ouvidos, saboreamos com a língua, sentimos com os dedos. Estes órgãos apenas captam informações e encaminham os fatos ao encéfalo. A mente-cérebro acusa quando estamos doentes, quando temos fome, quando fazemos sexo e quando sentimos várias emoções. É como uma central telefônica, que recebe e emite uma avalanche de mensagens. O cérebro escolhe o que é importante para ele e ignora o restante. A mente-cérebro cuida de nossa respiração; mostra quanto oxigênio precisamos e para onde enviá-lo. Pode bloquear substâncias tóxicas porém, infelizmente, não é capaz de impedir a entrada do álcool e substâncias psicoativas. Cada um de nossos 30 bilhões de neurônios pode mandar mensagens simultaneamente 60 mil vezes. Ajuda em nossa memória e controla nossa língua. A capacidade de nosso cérebro, até a atualidade, é pouco usada. Sua pontecialidade é infinita. Daqui há alguns milhares de anos, pensaremos que o homem atual era como um Neardental é para nós.
            Vamos observar como nossos cinco sentidos mandam mensagens à nossa mente-cérebro.
Nenhum outro órgão é igual aos olhos; que são capazes de enviar ao cérebro 1,5 milhões de mensagens, simultaneamente. 80% de todo nosso conhecimento é captado pelos olhos. Nossa retina contém 147 milhões de células receptoras; 140 milhões de bastonetes para captar imagens em preto e branco e 7 milhões de cones para imagens coloridas. A luz de um vaga-lume vai ao cérebro na velocidade de 350 km/hora. Pode parecer que vemos com nossos olhos, mas a percepção visual é feita no cérebro, no lobo occipital. Os olhos se movem 100 mil vezes por dia, o que corresponde aos pés andarem 70 km.
Tendo visto o que é visão, vamos ver agora o que é ouvir!
Nenhum outro lugar em nosso corpo é tão pequeno como nosso ouvido, pois contem muitas coisas. Os circuitos elétricos do ouvido são tão definidos que podem ser igualados ao sistema telefônico de uma cidade. O tímpano do nosso ouvido é tão fino que quando uma onda de ar bate move um bilhão de partes de um centímetro; ocorrendo um processo de informações que formam uma palavra. No ouvido interno, temos a cóclea, um osso mais duro; além de estar cheio de líquido garante o balanço e o equilíbrio à nossa vida. O ouvido é apenas um instrumento, nós ouvimos com a mente-cérebro. Cigarros, álcool, café e outras drogas danificam as artérias na parte interna de nossos ouvidos, causando sérias doenças; desde um contínuo zumbido até a surdez.
O nariz é como uma pequena montanha no centro da face. Antes de comermos, o nariz testa o cheiro da comida para que não ingiramos algo ruim ou estragado. Por outro lado ativam as glândulas salivares para dar gosto às refeições. A ressonância, que é conseqüência da combinação de vários sentidos nos faz cantar. Nossas narinas limpam e condicionam o oxigênio que entra nos pulmões. Diariamente levam uma quantidade de ar tão grande quanto o volume de um imenso quarto. Nosso olfato pode reconhecer 4000 variações de odores. Todo e qualquer odor, seja bom ou ruim, ao sentirmos não dura mais que dois minutos. Tabaco, cocaína, álcool e outras drogas destroem seriamente as membranas mucosas e as vias respiratórias, causando muitos tipos de problemas, entre eles a perda da sensibilidade do olfato. Num idoso, o nariz trabalha melhor que os olhos e que os ouvidos.
O homem vive dentro de um saco de pele, que é uma beleza demandando o barbear, o banhar, o perfumar e o coçar. A pele mantém a água dentro de nós e não permite a entrada de água exterior. O sistema nervoso da pele ajuda a identificar a dor, o tato, o calor e o frio. Nós ganhamos uma nova roupagem de pele a cada 27 dias perdendo milhões de células diariamente. A evaporação do suor refresca o corpo e assim, num dia muito quente, nossa pele mantém aproximadamente 37Cº a temperatura interna. Antigamente somente o sexo feminino se preocupava em cuidar da pele. Atualmente, os homens estão embelezando-se e cuidando-se mais.
Devemos imitar a humildade de nossa língua. Ela promove a mastigação e trabalha como um palito; além de demonstrar emoções. Por exemplo, uma criança quando coloca sua língua para fora, expressa aversão. Nossa língua nos ajuda a engolir. Para falar, ela é de extrema importância. Faz acrobacias quando dizemos uma só frase. O inimigo da língua são os dentes. Há sempre a necessidade de cuidados para não darmos uma mordida nela; formam um conjunto: língua e dentes. Uma cantora de ópera depende do bom funcionamento de sua língua. As papilas da língua nos fazem sentir os sabores doces, entre outros gostos. Para apreciar o sabor de um simples sorvete, é importante que ele esteja derretendo; assim as papilas captam seu sabor. O paladar varia de uma pessoa para outra. Ninguém pode reconhecer o que o outro sente. A criança não gosta de pinga, porém, quando adulto, poderá gostar tanto a ponto de se tornar um dependente de álcool. Em geral, prestamos mais atenção às nossas unhas e cabelo do que à nossa língua, que é o maior órgão social que nos leva ao bem-estar. Nós não pensamos nela. É um fato: a língua é muito humilde.
É através dos sentidos que o ser humano contempla o mundo ao seu redor, canalizando os conhecimentos, passando-os para o intelecto. Através da visão, observamos as cores e formas do mundo; pela audição ouvimos os sons; pelo olfato, sentimos o cheiro; pelo tato, sentimos a temperatura, a textura e as formas através do contato com a pele; pelo paladar, saboreamos o gosto dos alimentos, mastigando-os bem; enfim, é através destes sentidos que vamos assimilando as coisas externas para nós. Assim perdemos o medo, servimos socialmente e entramos no amor que é a base da sobriedade.
Deus cria continuamente o universo em que vivemos; nós estamos sempre renovando este mundo de que somos uma parte. Usando corretamente tudo que pertence a este mundo e, trabalhando como co-criadores, servimos em felicidade e sobriedade.
A substância do cérebro e os processos da mente estão interativos e sem separações. Agredindo nosso organismo e nosso cérebro com álcool e outras drogas, perdemos nossa habilidade de encontrar nosso bem-estar e também o dos outros.
Em conclusão, para vivermos em sobriedade e em justiça social, temos que compreender que a mente-cérebro é o que comanda todo nosso ser; e nós, com a Graça Divina, é que comandamos nossa mente-cérebro. Nosso universo está nas mãos de um Deus misericordioso e cheio de amor. Como co-criadores devemos viver amavelmente com alegria, sobriedade e socialização. É o que traz harmonia entre os seres humanos e com a Divina Majestade.




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