Bons pais
Seu João veio do sul da Bahia, no princípio da década de 30, para visitar o Rio. Já com aquela sábia pachorra que a idade traz, tomou um bonde e se deixou levar pelas ruas da cidade maravilhosa, olhando tudo com interesse.
Aconteceu haver sentado ao lado de outro velhinho, franzino este, que também observava de olhos vivos tudo ao seu redor.
Acabaram puxando conversa um com o outro:
- O senhor é daqui do Rio?
- Não, sou do interior de São Paulo. E o senhor?
- Sou do interior da Bahia.
- Estou aqui de visita.
- Eu também estou aqui de visita.
- Tenho um filho que mora no Rio. Ele é estudante.
- O meu anda metido aí em uns movimentos, tem umas ideias meio afoitas...
- Ora veja, pois o meu também – e seu João ajoelhou-se no banco, orgulhoso: - Mas é um bom menino, e quer ser pintor.
- O meu quer ser escritor.
E enquanto o bonde seguia, os velhos ficaram calados, pensando com carinho em seus filhos Cândido Portinari e Jorge Amado.
Bons pais dão bons filhos.
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